segunda-feira, 9 de novembro de 2009

sábado, 31 de outubro de 2009

Também vooo

Cheguei atrasada ao aeroporto. Sabem porquê? Tinha-me esquecido do passaporte. Tive de o ir buscar a casa a correr. Foi tudo tão rápido e intenso, como se todo o percurso tivesse sido feito em cinema 3D. Houve um autocarro que quase engoliu o taxi ou o passava a ferro. Brutal. Quando finalmente me sentei a fazer tempo para o embarque, respirei fundo. Preparada para mergulhar no meu exercício mental preferido, a saber, o que de melhor me aconteceu naquele dia (eram 23 horas), eis senão quando sou interrompida muito ao de leve, por uma voz ao telemóvel que dizia a alguém: "Parto daqui a 40 minutos para Moçambique. Sim, sim, telefono quando chegar". Tinha o meu destino. Olhei. Quando me sentei no avião, sentou-se ao meu lado. Perguntei-lhe se íamos ao mesmo. Viagem de trabalho? Sim, sim. E sim também para a melhor viagem longa, melhor companhia para viagem longa. Acabámos por passar 10 dias juntos. Quando nos despedíamos, para qualquer coisa básica que fosse, do tipo ir comprar cigarros, o coração encolhia. Depois, ele voltava e o músculo apanhava o ritmo. Tínhamos de partilhar quarto com outros dois colegas de trabalho, portanto, só nos restava ficar a falar no bar no hotel, embalados pela música kitsch do pianista de serviço. Nunca dormi tão pouco na minha vida. Passava pelas brasas de dia: cinco minutos no ombro dele, outros cinco na casa da banho, uns minutos no banho.

A minha bicicleta é melhor do que a tua

Às vezes sinto-me fernando pessoa, entre dúvidas e versos tristes. Às vezes, finjo ser psiquiatra da minha pessoa, levo-me para o meu sofá e deixo que os desabafos se soltem à vontade, ainda que não abra a boca. Por momentos, naquela tarde cheguei a pensar: um dia lavaria as mãos contigo. A primeira vez que o te o vi fazer, fiquei encantada. Curvaste-te sobre o lavatório e lavaste-as bem, com firmeza, de forma despachada, durante o tempo certo. Passei o resto da noite a pensar em como eras diferente do meu ex-namorado. Quanto mais pensava nisso, mais me apetecia convidar-te para irmos a Amsterdão. No paraíso das bicicletas, iríamos dar-nos bem. Por isso te convidei. Mas disseste que não podias. Só ouvi o não. Não ouvi o resto. Fui com o Mário.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Defeitos

Disse à Carolina que tinha medo das pessoas normais. Ela riu-se e desvalorizou. No sábado seguinte, no Clara Clara, esplanada do jardim da Feira da Ladra, veio ter comigo para me dizer, que sim, que tinha razão. Afinal, dos que conhecemos as falhas podemos esperar menos surpresas, são mais ou menos previsíveis. Atirou-me, no entanto, uma frase curiosa: todos temos defeitos. Fiquei a pensar nos meus traumas conscientes, nas reacções descontroladas e desproporcionais que tenho diante de determinados obstáculos. Do pavor de acordar sem reconhecer onde estou. É mesmo isso, dizia para mim. Passei o resto da tarde a escrever as falhas das pessoas que conhecia e à medida que o fazia, ficava maior o apego por elas. E o exercício relaxou-me. Afinal, os defeitos podem não ser muito importantes. São normais.

Adormecer

"Onde te vi despir, regresso agora, para adormecer ou chorar". A frase está ao pé do Liceu Camões, em Lisboa, por baixo do muro de fundo azul, nem escuro nem claro, que fica na lateral, quando se sobe. Aparece logo depois do veterinário, à esquerda. Está pintada com um desenho de letra redondinho. Entra como um verso na nossa mente enquanto o nosso olhar se desvia, sem ordem, para o prédio da frente. Deverá dirigir-se a alguém que ali mora. Já lá está há um mês. Ontem resolvi procurar as personagens deste epílogo e colei então um papel na porta do prédio. "Procura-se destinatário da frase: "Onde te vi despedir, regresso agora para adormecer ou chorar". Deixei o contacto. Já me mandaram um email.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Começar ao contrário

O mais normal é conhecer alguém a partir do círculo de amigos. Começar aí uma empatia que pode crescer para contornos amorosos. Luísa, porém, nunca teve essa experiência. Com o António, por exemplo, começou ao contrário. "Ao contrário?", perguntou, visivelmente interessada na resposta, Alice. "Sim", disse, abanando a cabeça de cima para baixo, enquanto fazia um sorriso Mona Lisa."Conheci-o na Gulbenkian. Ele pediu-me uma caneta e acabei por lhe emprestar uma das minhas bic de estimação, das amarelas de escrita fina. Depois, ele mandou-me um mail porque descobriu que eu era jornalista, e os endereços estão lá, a par da assinatura. Durante seis meses, fomos trocando dicas de concertos e sobretudo sugestões acerca dos restaurantes e esplanadas mais agradáveis da cidade. Não eram, no início, contactos muito frequentes, mas foram-se tornando. Até aqui tudo muito leve, dentro de uma linha clara de amizade. Até que um dia ele me disse que estava a pensar mudar-se. Ia deixar Lisboa. Ia partir. Aquilo mexeu comigo. E ele começou a irritar-me. O que me ia dizendo, parecia-me tão desligado, pois não implicava em nada a existência da minha pessoa. Estava como que a reclamar por ele não se preocupar comigo, vejo agora. Sei que a preocupação é o primeiro sinal de se gostar honestamente de alguém. Esforçava-me para falar calmamente com ele, como amiga, mas descobri, de repente, que estava chateada com o facto de ele partir, de ele se ir embora. Combinei um jantar. Bem, só ao terceiro convite consegui que ele não o desmarcasse. O encontro foi feito de conversas banais e alguma risota. O vinho maduro tinto ajudou. Quando, a caminho de casa, veio à conversa a despedida, discutimos. Finalmente. Foi um alívio. Em síntese, disse-lhe que tinha começado a gostar mais dele do que era suposto. Ele disse-me que eu sempre tinha dado sinais de querer ficar pela amizade. Por fim, ele disse-me que também não valia a pena. Se estavam a discutir, não valia a pena preocuparam-se um com o outro. Aquilo atingiu-me como um raio". E então, então, ele foi embora?, interrompeu a Alice. "Claro. Mas só se aguentou três meses fora, quando voltou de Londres, acabámos por nos encontrar na Praça Luís de Camões. Andamos desde aí. Já lá vão três anos. Cada vez nos entendemos melhor. Estranhamente, agora que o conto, é a minha relação mais tranquila".

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Uma aventura

Olhou para cima, para a janela, mais uma vez antes de se lançar na aventura. Conseguiu que alguém lhe abrisse a porta de baixo para chegar às escadas. Cada degrau que fazia era um grande passo. Estava obstinada. Tinha de ir lá e mandar vir com ele. Falar, falar, falar. Assim foi. Ele abriu a porta e nem teve tempo para dizer o que quer que fosse. Ela já estava a discutir sem a participação dele. Tinha um jeito engraçado de dialogar. Fingia ser ele e respondia ao que tinha acabado de dizer. Ele estava estático. Mantinha-se silencioso. Ela ia explodindo como podia, bracejando, batendo com o pé. Assim se consumiram 22 minutos da vida deles. Até que ela se sentou. "Estou cansada", disse. Ele pôs-se ao seu ao lado, olhou para baixo e começou a dizer que não estava a perceber nada. Josefina pediu-lhe, entretanto, um copo de água. Bebeu-o e saiu porta fora, deixando-a aberta. Ele fechou-a. Em sistema piloto automático - David costumava dizer que de vez em quando funcionava em piloto automático - foi até à janela, abriu-a e deu por si a despejar o copo de água que tinha na mão. O líquido fez uma curva para lhe acertar em cheio. Parecia comandado. Ele viu Josefina de cabelo molhado a afastar-se. Josefina não se virou nem nada. Naquele momento, David pensou: como ela ficava tão bonita de cabelo a pingar. Pensou nos banhos deles. A ideia durou 5 segundos mas caiu. Gostaria muito mais dela se ela fosse muda, passou-lhe pela cabeça.

domingo, 26 de abril de 2009

Auto-estrada

Nem reparou no carro. Tinha-o aberto com o sistema automático. Dois quilómetros depois da estação serviço, reparou que não era o seu polo wolswagen. No assento ao lado, estavam maças. Maria tinha trazido bananas, para o caso de um acidente, como acontece tantas vezes na A1, fazer parar o trânsito e a fome entretanto chatear. Como estava na auto-estrada, achou que o melhor era continuar caminho até chegar à próxima estação de serviço e aí falar com alguém. Será que outra pessoa estaria com o seu carro? Ou haveria realmente alguém apeado? E mala desarrumada! Estas coisas acontecem sempre quando estamos com o pior pijama, pensava enquanto agradecia à si própria o facto de ser cautelosa e de ter levado consigo a mala, com chaves e documentação, apesar do objectivo da paragem ter sido apenas uma visitinha rápida à casa de banho. Se tivesse deixado o carro para trás com a chave na mão, ainda se sentiria mais desorientada naquele momento. Bem, resolveu dar uma trinca numa maça. Comeu-a. Quando chegou à outra estação de serviço, estava alguém de porta aberta ao lado de um carro igual ao seu. Sim, era o seu carro, com as bananas bem à vista. Estava contente como se tivesse descoberto a solução para todos os seus problemas e disse: "Trocamos sem querer, não foi?". A resposta: "Pois. Nem queria acreditar. As bananas ali ao lado despertaram-me o cérebro. São automóveis do mesmo ano e modelo". Trocaram as chaves e seguiram viagem.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Alice e os gatos

Não conseguia dormir com eles, mas não conseguia dizer-lhes para se irem embora. E os desgraçados, encolhidos por causa do frio, ficavam no sofá, com uma reles manta a fazer de lençol, de edredon e de colcha. Alice trazia sempre um amigo para ficar lá em casa depois de um noitada. As restantes residentes, todas elas estagiárias como ela, divertiam-se à grande com aquilo. No sábado de manhã, iam com cuidado espreitar à porta na tentativa de verem quem estaria no sofá. Alguns "gatos", como lhes começaram a chamar, também se escapavam noite dentro: assim que o efeito do alcóol se ia, iam-se também. O metro ficava perto. Mas num sábado como outro qualquer, quem não estava em casa, na sua cama, era Alice. Quando chegou, às quatro da tarde, teve de se justificar. Foi bombardeada com perguntas. Com ar cansado, recusou-se a dar grandes explicações. Sempre teve a sensação que só a percebiam pela metade. Limitou-se a dizer: "Dormi em casa do Miguel, no sofá dele. E a meio da noite ele veio ter comigo".

domingo, 25 de janeiro de 2009

Uma prenda

Eu gosto mesmo muito dele. E não é por ele ser seguro. É por corar e ficar cabisbaixo logo que deixa de falar comigo. Eu sei que o transporto para outra dimensão. Ele comigo, revela-se humorado e aventureiro. Contou-me que colecciona histórias para me contar. Eu dou-lhe pontos. E as mais votadas são lidas ao domingo de manhã. Como se fossem a nossa missa conjugal. Com ele, não tenho medo de ser despedida ou de ter cancro da mama. Quando estou com ele, estou sempre entretida. Apetece-me fazer bolos e manter aquele cheiro enquanto nos enrolamos na cama. Passámos o fim de semana em casa e foi como se tivessemos feito uma viagem. Mesmo aquela sensação que se tem do regresso foi igual. Trazia uma compensação qualquer comigo. Uma prenda para guardar muito bem. Quando me deitei sozinha, na minha cama, virei-me para a janela que fica para o lado da casa dele e deixei-me adormecer assim. Mas, atenção, as histórias que me conta são tudo menos leves, como nós. São estranhas, entroncadas e dramáticas. Mas enfim, no Carnaval, vestimo-nos de pássaros.

A mulher invisível

Tinha uma nódoa na camisola. Foi tirá-la. Mas sobrou a vontade irresistível de voltar a vesti-la. Como se fosse a peça mais certa para aquele dia chuvoso. Lavou-a, secou-a, passou-a. Noutros tempos, não teria importância. Enquanto Felismina contava o episódio insignificante, Alice ia somando pontos na sua preocupação. Felismina chegou a dizer-lhe que deixou de ir à praia por ter começado a implicar com o mar. Faz muito barulho, não sosseja, justificou. Está a mudar a Felismina, pensou. Todos lhe sugaram energia e boa vontade e ela foi-se apagando aos olhos de toda a gente. Lembrou-se de um dia a sua avó lhe falar de uma tia solteira que tinha esses poderes: estava sem se dar conta dela. Viveu assim muitos anos, até fugir para o Brasil. Alice ia juntando explicações como se de uma demonstração power point se tratasse. Deixou-a falar, falar. Por fim, disse à amiga: "Se és invisível, tira ao menos algum partido disso, por favor! Descansa."

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Intervalos

Pedro gosta mais de mim nos intervalos das relações que vai tendo e fui-me habituando a isso. Se me convida para um café ao sábado, já sei do que tratará a nossa conversa. Mais uma namorada, amiga ou lá o que seja que está a deixar de lhe dar pica. Curiosamente, nunca há uma razão sexual para o afastamento, o que sempre me fez crer que ele não seria muito exigente nessa área. Pelo contrário, o que mais o arrelia, por regra, são as conversas chatas. "Pode-se não falar de nada novo, não é isso", insiste em explicar, mas há coisas que o incomodam. Como por exemplo? Gastar meia hora a falar da colega de trabalho que teve um filho. Como conversa chata puxa conversa chata, os diálogos vão se tornando monólogos e ele começa a desinteressar-se. Um dia contou-me que a Joana se tinha transfigurado à sua frente enquanto falava, falava. De repente, viu um monstro na sua cara. Os olhos desapareceram e no lugar do nariz estava uma tromba. Naquele dia, a história tinha uma nova coordenada: "A Elsa traz brinde". "What?", perguntei?. Tem um filho de três anos e não me apetece andar com o filho.

Olho azul

Abri-a bem olho e quanto mais o fazia, mas crescia o seu espanto. O espelho dizia-lhe que tinha um olho azul. Apenas um olho azul. O outro estava igual ao que sempre foi: castanho cor de castanha. Demorou alguns minutos até conseguir encontrar uma explicação. Afinal, no dia anterior tinha dois olhos normais. Tinha dormido sozinha, com lençóis lavados, é certo, a última refeição não incluiu nenhuma iguaria excepcional - voltou a comer queijo fresco com salmão fumado, sobre o qual espremeu um limão. Estaria com o tumor e ver mal por causa disso. Morrer com um cancro na cabeça seria o seu destino? Que fatalidade! Mas isso só acontece aos outros e não a ela, uma pessoa normal, que nunca foi além de uma gripe, curada em três dias. Só podia ser uma doença grave! O que mais podia ser, ia-se perguntando. Quando saiu de casa, perguntou à primeira pessoa, uma velhota que passou: "Desculpe, pode ajudar-me? Repare no meu olho. De que cor é?". Fechou ligeiramente as pálpebras para se fixar bem e respondeu: "Castanho". Atirei logo: "E o outro?". "Azul, é azul", respondeu. "Como pode ser, ontem tinha dois olhos castanhos", disse-lhe. Com ar rezingão, barafustou: "E ainda reclama. Quem me dera ter pelo menos um azul".

domingo, 4 de janeiro de 2009

Enganos

Enganou-se no autocarro. Quando reparou que aquela era a Avenida de República, foi rapidamente ter com o motorista perguntar-lhe que trajecto era aquele. Afinal, estava no 32 e não no 22, que costuma deixá-la na João XXI. Ficou na paragem seguinte, ao pé do Campo Pequeno. Como estava a chover, entrou no que é um centro comercial, paredes meias com a praça de Touros. Estava esganada de fome. Pôs-se à procura do espaço para refeições. Mas antes de o encontrar, viu uma cara familiar. Sabia que a conhecia mas não sabia exactamente de onde. Resolveu segui-la. Fingiu ver a montra que precedia a que este via. Passado uma boa meia-hora, aproveitou o facto de este mudar de corredor para o confrontar: "Olá. Eu conheço-o, não conheço?". Por mais voltas que dê, não percebe o que a levou a fazer aquilo. Saiu-lhe. Mais espantosa foi a resposta dele: "Não sei. Estou perdido".

Tão simples

João não resistiu a ouvir a conversa do lado. Falavam alto. A rapariga de cabelos lisos dizia que adorava fazer pão para o namorado. Que tinha sido assim que a sua relação tinha começado. A mais ruiva analisava cada frase como se fosse especialista em comportamento: "Quando se faz alguma coisa por alguém, esse bem é devolvido, e o amor pode ser isso, é pôr a funcionar essa ponte, tirar-lhe as portagens!". A criatura mais baixa, que não conseguia perceber se era rapaz ou rapariga, gozava: "Lá estás tu, sabes tudo!". Ainda lhes disse: "Pareces a minha sobrinha de quatro anos que tem sempre uma última palavra a dizer". "Ok, fiz-lhe pão e ele gostou, mas não foi só isso, damo-nos muito bem na cama". Foi quando passaram para este nível que a conversa se tornou irresistível. "No resto, no dia-a-dia, até acho que somos um pouco disfuncionais. Às vezes, ele não entende o que eu digo e mostra-se desatento, quando explico pela segunda vez. Mas não ligo". Alguém aproveitou um silêncio de três de segundos para perguntar: "Como é? Como é entenderem-se bem na cama?". A resposta foi simples: "Quando se gosta, repete-se".

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Odeio talhos

Rita explicava ao Pedro o motivo da sua ocupação constante. Estava sempre a fazer alguma coisa, a programar o que se seguiria, a planear mesmo o que sabia que não tinha condições para cumprir. Noutros tempos não era assim e sofria. Agora não. Optou por andar distraída. A distracção - agora distração por causa do novo acordo ortográfico, que também muda muitas palavras até aqui com hífen - entretém e evita pensamentos relacionados com a morte. "Estou aqui, mas posso não estar e não estarei qualquer dia", dizia ao Pedro. "Quando olho da janela e procuro céu azul, procuro deitar-me nele, como se tivesse acabado de estender a toalha de praia num dia de sol". Antes não. O azul imenso invadia-lhe o cérebro, fazendo-a pensar em tudo de forma nua e crua. Em poucos segundos, ficava dominada pela tristeza. Evitava as montras de talho, tinha o cuidado de passar para o outro lado quando avistava alguma, pela mesma razão. Carne exposta daquela maneira é pornografia. Agora sim, continuava a contar ao Pedro. Não tinha tempo para depressões. O Pedro perguntou-lhe então: "E não te cansas?". Rita encolheu um pouco os ombros e depois de uma pausa, atirou: "Claro, mas antes cansada que morta".