quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

fazer o pino

Fomos passear, deitar conversa fora. Deu-se o inverso. Vieram as palavras todas para dentro. Ficou cheia delas. Decorou cada frase como se fosse um verso eterno. Não lhe saíam da cabeça. Teve de fazer o pino.

eixo

Apesar do frio que estava lá fora, estava quente no eixo principal. Deslocou o equilíbrio para a zona abaixo do peito, ligeiramente acima da barriga, e a sequência dos acontecimentos alterou-se. Os problemas eram exactamente os mesmos. o ponto para eles é que era outro.

parva

Como estás?
Estou parva.
Neste momento?
Há dias.
Isso passa?
Demora.
Como começou?
Depois do acidente.
Então?
Desisti.
De quê?
De controlar.
O quê?
A minha vida
Toda ela?
A que vier

levitar

A conversa sobre a neve não é uma conversa sobre o tempo. A neve é outra coisa. Tal qual tu.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

sem-abrigo

Podemos perder tudo. O nome fica

sábado, 16 de fevereiro de 2013

amoras

Foi rua fora, pé no asfalto, vestindo apenas camisa de dormir.

biscoitos

Naquele cesto juntam-se frases perdidas. São papéis de cores e feitios diversos. alguns deles de letra imperceptível. Demoro tempo a decifrar os gatafunhos das duas da manhã. os outros estão alinhados, impecáveis, limpos. Ganho sempre alguma preciosidade a tentar encontrar o mistério.

deslizar, deslizar

o melhor exercício para conhecer alguém melhor. jogar ao se eu pudesse. Se eu pudesse passava o dia a andar de patins. O dia, é como quem diz, o tempo todo até me fartar e não ter forças para mais. Desistir assim não é desistir. A última vez, houve uma vez em que caí e senti o frio no rabo. não me magooei. Já me tinha magoado nesse dia o suficiente por causa do Pedro. Já tinha sentido frio.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

dói me o pé

depois de um palavra, veio outra, e mais outra. Fez-se uma história. A deles. Começou pelas confidências, deslizes mínimos entre conversas cruzadas de amigos. Em vez de equívocos, nasciam esclarecimentos. Não importavam. Sabiam bem que não importavam. Foram almoçar ao "bate fundo", na Graça.

iogurte

Aos seis, comia iogurte de banana todos os dias. Fez uma pausa na adolescência para experimentar outros sabores e estacionou, mais tarde, de novo, no de banana. O sabor nem sequer se alterou. Exactamente igual. Mudou a embalagem.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

hipoteca

Anos teimosos aqueles: a culpa é minha, a culpa é minha. Moral das histórias mais íntimas, uma após outra. De cela em cela. Erros associados a defeitos. A culpa é minha. Hoje, as crianças herdam dívidas.

básico

diz-me que foste para casa a pensar se terias feito tudo mal naquele fim de tarde. À medida que a horas passam desenvolvemos ideias menos essenciais. De manhã, estamos na infância.

manias e taras

Nada de mais errado do que poupar no chá e no café. Corta no medo

profundamente

Com a dor não se brinca

vistas de fim distante

Não suporta fãs de coscuvilhice. Está do outro lado lado. Perde-se em contemplações. Poemas, fotografias, parágrafos, notas de piano, pautas, músicas de embalar, linhas de ballet, saltos do chão, vistas de fim distante. Não espreita pela janela. Basta-lhe ver as cortinas. Podiam ter sido lençóis.