sexta-feira, 22 de novembro de 2019

hospital 2

Tinha um cabelo aos caracóis
como outrora foi imagem de marca
do Marco Paulo
uns olhos azuis cintilantes
que não eram bonitos
porque assustavam
assim que nos fixavam
umas mãos fortes e musculadas
de quem trabalhou
com elas e sobre elas a vida toda
e gestos de menino
contido e envergonhado
o Alfredo visitava todos os dias
a senhora da cama do meio


Hospital 1

Todos estão sozinhos
numa cama de hospital
a simpatia dos profissionais
é empacotada
as arrastadeiras
arrastam as mulheres
para o tempo
das trevas
os médicos não se apresentam
e falam pouco
as visitas jeovás
falam muito
e oferecessem-se
para cortar a fruta
A minha fruta,
digo-lhes eu,
corto-a
com os dentes,
não gosto de facas