segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

a tua fotografia

as melhores fotos são sempre as de alguém a pensar
fiquei presa à imagem
colou-se entre as memórias recentes
era a preto e branco e flutuava
errante, sem causar incómodo
intrometeu-se simplesmente
as melhores fotos são sempre as de alguém a pensar

mar de prata

sol de inverno
frio nas mãos
nariz gelado
pontas
as ondas teriam dado
cabo de mim
se me tivesse feito a elas
bebi água salgada
engoli areia
quanto mais aprecio
a natureza
mais me apetece deixar
de comer vegetais


sábado, 12 de janeiro de 2013

vick vapospray

quando está desanimada
encosta a chávena
de chá bem quente ao coração
cerra os olhos
e deixa entrar
a claridade
que vem
da janela
em 11 segundos, os feixes de luz
ultrapassam as barreiras
e chegam lá
os neurónios agradecem
há festa de fim da tarde
cerveja fresca e tremoços
piadas non sense
planos de viagem
lá dentro

dois

descobriram que tenho dois
corações no peito
fica explicada a inquietação
a sensibilidade tão fina
os excessos nos amores
e na dança
ainda não disseram
qual me tiram
vai demorar um mês a saber
por minha vontade
ficava o maior
o mais pequeno
quer emigrar

raiz

juro pelo meu cabelo

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

on my way

faz à tua maneira em vez de fazeres à maneira do trabalho. Cansa menos, descansa a pele.

a ver se te avias

Estava na caixa do correio o livro. Vai lê-lo devagar. Assim trata o que gosta. Coisas chatas, é um ver se te avias.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Rewind

Não bebe água das pedras há um ano. Era a primeira bebida dos encontros com o José. De tal forma que o abastecimento na despensa se tornou rotineiro. Começaram na esplanada do cinema São Jorge. Beberam-na juntos pela última vez em Alfama. Apagou da memória o nome da tasca. Após o afastamento, deixou de fazer sentido. Ontem, voltou a pedir água das pedras natural, à semelhança do passado, utilizando a mesma entoação de voz, e contou ao Pedro, por alto, o trauma. Ele ouviu-a através dos olhos e disse-lhe a seguir: não a peças ao pé de mim, ok? Calou-se e encolheu-me. Há coisas que é melhor não sabermos, não é?, disse. Meteu a mão à boca para a tapar. Maldita. Não dá para voltar atrás.

caracol

Nunca tem fé no início de uma relação. Vai ela a meio, quando começa a ter um vislumbre de um namoro. Afinal, resulta, diz ao espelho confidente. A falta de timing tem-lhe estragado o futuro. Chega ao final e ela ainda vai a meio.