segunda-feira, 14 de julho de 2008

Dormiu comigo sem querer

Passou a semana a pensar em dois sonhos. Num deles, a vizinha loura e de olhos azuis, bem sublinhados com lápis preto, com mais de 88 anos, já lhe tinha perdido a conta, era uma espécie de Lara Croft idosa que queria resolver um problema no Metro do Areeiro. Para isso, vestida à guerreira, andava no túnel, no meio daquele escuridão. Naquele sonho, a minha pessoa tentava demovê-la a não fazer o que era mais arriscado. Uma tarefa difícil, porque ela não se importava de morrer. Noutro sonho, Hugo meteu-lhe a mão pela axila tocando-lhe ao de leve no início da mama quase sem querer. O gesto atingiu-a como um flecha, distribuindo-se velozmente o sangue até chegar a todas as extremidades. Às mãos, só não chegou ao dedo mindinho, que, infeliz, se sentiu rejeitado. Em três tempos ficou dormente. Acordei deste sonho sem sentir a mão. Tinha-a pressionado com a almofada. E a pensar como tinha levado o Hugo a dormir comigo nessa noite se só me dirigiu uma frase nesta vida. Do outro sonho, foi fácil tirar conclusões... Cansada, estou exausta. O sonho deu-me conta do desgaste que é estar sempre a evitar que certos acontecimentos aconteçam.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Uma peça de fruta

Hugo disse-me que gostava do meu cabelo. Gostar do cabelo de alguém em detrimento do sorriso franco, do modo de alguém de se mexer, da voz, da pele, é uma novidade para mim. "Gosta do meu cabelo, bem, estou tramada". Pareceu-me tão superficial. Fiz o que qualquer rapariga normal faria. Fui a uma loja de cosmética e comprei um bom creme, uma máscara cara e um shampoo de marca francesa. Tinha de me cuidar, não fosse por aí que o namoro ficasse sem graça. Ele provou-me que adorava cabelos. Dava as voltas que fossem precisas na cama para conseguir ficar com o meu cabelo na sua cara. Dormia assim. Deixei crescer o cabelo, não tinha grandes preocupações com a depilação, e comecei a poupar na maquilhagem. Ia apenas usando a que tinha. Na festa de despedida do António, falou, porém, das maças do rosto de uma amiga comum. Não me lembro de lhe ouvir observações do género durante esse tempo todo. Era daqueles que poupava elogios. Um elogio era um óscar. Perguntei-lhe. Respondeu-se sem demora: "Gosto de cabelo porque eu não tenho cabelo, haa!. Gosto das maças do rosto da tua amiga porque estou com fome: apetece-me uma peça de fruta".

Vais partir naquela estrada

Aprender qualquer coisa numa série como Nip Tuck. Foi exactamente o que disse a Carolina. No meio daquela extravagância de sexo e overdose de quebra preconceitos, uma conversa bem escrita marcou o dia de Carolina, que, por sinal, passava uma fase morna na sua vida, sem grandes avanços pessoais, sem nada que mereça ser recordado, mas também limpa de fantasmas perturbadores a tomarem-lhe o pensamento. Carolina contou que uma das personagens ao deparar-se com o assumir da sexualidade do marido, que era gay, ficou muito preocupada com ela própria. A senhora já sabia que o marido era homossexual, embora fingisse não o saber. Mas a história era mais enrolada. Ela sempre teve namorados gays. Foi um atrás do outro. Ela gostava do género e eles também se apaixonavam por ela. Tentou interessar-se por homens com outras características, mas cedo desanimava. Faltava verdade naqueles relacionamentos. O seu marido ia agora experimentar os homens que até aí faziam parte das suas fantasias. E ela? Não se imaginava com mulheres nem com os namorados das suas amigas. Ela não tinha alternativa. E apenas uma certeza: Eles vão sempre embora.