domingo, 25 de janeiro de 2009

A mulher invisível

Tinha uma nódoa na camisola. Foi tirá-la. Mas sobrou a vontade irresistível de voltar a vesti-la. Como se fosse a peça mais certa para aquele dia chuvoso. Lavou-a, secou-a, passou-a. Noutros tempos, não teria importância. Enquanto Felismina contava o episódio insignificante, Alice ia somando pontos na sua preocupação. Felismina chegou a dizer-lhe que deixou de ir à praia por ter começado a implicar com o mar. Faz muito barulho, não sosseja, justificou. Está a mudar a Felismina, pensou. Todos lhe sugaram energia e boa vontade e ela foi-se apagando aos olhos de toda a gente. Lembrou-se de um dia a sua avó lhe falar de uma tia solteira que tinha esses poderes: estava sem se dar conta dela. Viveu assim muitos anos, até fugir para o Brasil. Alice ia juntando explicações como se de uma demonstração power point se tratasse. Deixou-a falar, falar. Por fim, disse à amiga: "Se és invisível, tira ao menos algum partido disso, por favor! Descansa."

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