sábado, 10 de novembro de 2007

A falha

Encontrei-o no café onde apenas fui comprar uma caixa de fósforos que nem sequer era para acender um cigarro. Tinha deixado de fumar e estava a conseguir resistir à tentação de falar de coisas pessoais e difíceis sem ter ajuda do fumo, que eu achava que me aclarava as ideias. Literalmente contraditório, não? Acabei por me sentar e perceber que ele continuava na mesma. Com a mesma namorada, os mesmos problemas, basicamente relacionados com a incapacidade de tomar decisões. Ele disse-me que eu também estava, embora não me sentisse nada na mesma. Estava uma pessoa realista. Nunca o tinha sido. Quando tivemos um caso, era uma criativa andante. Agora não. Deixei-o falar. Ficar com a boca seca de tanto dar à língua. Parecia que estava com fome de o fazer. Chegou a um ponto em que desliguei. Desviei a atenção para o casal que estava ao meu lado. Percebi que ainda não teria passado meia-hora sobre uma boa cambalhota. Estava visto o que tinha falhado. Não tinha sido a namorada que sempre existiu. Ele gostava que eu o ouvisse, como se a minha aprovação fosse importante. No meu lado, nunca houve grandes confidências, fiquei pela epiderme. Quando sai dali tinha o enigma resolvido. Ele nunca tinha gostado grande coisa de mim. Acho que ele também não devia gostar grande coisa da namorada. Há quem nunca goste grande coisa de ninguém. Tenha essa deficiência.