quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

tim tim por tim tim

José sentou-se e ficou ali de boca fechada. Ela queda ficou. José pediu um chá verde, pouco quente, e uma torrada com manteiga. E disse-lhe que não sabia como começar. Tinha uma coisa para lhe contar, mas não tinha descoberto o melhor início. Sentia um nó na garganta. Ela propôs-lhe uma ordem contrária: do fim para o princípio. José tentou. Fixava-a nos olhos e desistia. Não conseguia. Maria perguntou-lhe se ele estava decidido. Ele respondeu-lhe que não sabia, só tinha uma certeza, sem falar com ela não podia ficar. Passaram 15 minutos e nada. Maria tocou-lhe na mão e despediu-se. Não se pode esperar infinitamente pelas as palavras dos outros. Saiu dali convencida de que não havia nada a fazer. Andou em passo largo até casa, ultrapassou um jovem de calças descaídas com a roupa interior à vista. Ainda identificou os desenhos de umas gotas de água cinzentas. "Lágrimas?", passou-lhe pela cabeça. "Chuva ou lágrimas?". Quando chegou a casa, abriu o frigorífico, retirou um um iogurte liquido, fechou bem a porta e ligou o computador. Lá estava: um mail dele a contar tudo, tim, tim por tim, tim. Com os pormenores que ela jamais perguntaria. Escrevemos tanta coisa que não falamos. Falamos tanta coisa que nunca escreveríamos.