domingo, 8 de fevereiro de 2009

Alice e os gatos

Não conseguia dormir com eles, mas não conseguia dizer-lhes para se irem embora. E os desgraçados, encolhidos por causa do frio, ficavam no sofá, com uma reles manta a fazer de lençol, de edredon e de colcha. Alice trazia sempre um amigo para ficar lá em casa depois de um noitada. As restantes residentes, todas elas estagiárias como ela, divertiam-se à grande com aquilo. No sábado de manhã, iam com cuidado espreitar à porta na tentativa de verem quem estaria no sofá. Alguns "gatos", como lhes começaram a chamar, também se escapavam noite dentro: assim que o efeito do alcóol se ia, iam-se também. O metro ficava perto. Mas num sábado como outro qualquer, quem não estava em casa, na sua cama, era Alice. Quando chegou, às quatro da tarde, teve de se justificar. Foi bombardeada com perguntas. Com ar cansado, recusou-se a dar grandes explicações. Sempre teve a sensação que só a percebiam pela metade. Limitou-se a dizer: "Dormi em casa do Miguel, no sofá dele. E a meio da noite ele veio ter comigo".