sábado, 29 de junho de 2013

Poesia quotidiana

de que serve a poesia enfeitada
de que serve gente postiça
caem as unhas de gel
e
a descoberto fica a mancha do fungo
de que serve não falar das ninharias
se são elas a inquietação
de que serve um prato de ostras
se o apetite pede uma banana dentro do pão
de que serve a poesia enfeitada
se a vida é sóbria que nem as manhãs

sexta-feira, 7 de junho de 2013

vinho

Não é o melhor poema dele. O melhor também não interessa. A competição é uma treta. As melhores pessoas de tão boas ficam escondidas pela bondade. Disse-lhes para serem menos generosas. Não perceberam onde queria chegar. Continuaram excelentes. E desisti de querer fazer delas o que não são. Atirei razão, devolveram um jantar à larga. Cada prato mais delicioso do que o anterior. Vinho de 100 euros. Tinha sido oferecido. O nome não o fixei. Esqueci-me de perguntar pelo filho ausente. Emigrou.

às escuras

A dor não tem luz. Fecho os olhos. Pões a mão sobre a minha cabeça. Não consigo abrir as pálpebras, apesar do sol queimar a pele e de me pressionares falando das andorinhas. Voam sobre a piscina, vem  uma e outra atrás, imitam-se, fazem tangentes finas à linha de água. Vão bebericar.