domingo, 29 de julho de 2007

Viva a mentira

Abaixo os psicólogos e psicanalistas que vão buscar pesadelos do passado para justificar os do presente. A maior parte dos traumas de infância são interpretações incorrectas. Luísa não era feliz com a verdade. Passou a vida inteira a viver em função dela e raramente se deu bem. Agora ia divorciar-se dessa obsessão. A verdade que vá chatear outra moçoila maníaca, insatisfeita. Afinal, podia viver com a mentira. Era uma questão de treino. Ela pode tornar a vida mais suave. Primeira aula: não dizer o que se pensa, desviar o assunto. Assim fez. Acham que alguém reparou? Nem o Zé que continua a enroscar-se nela antes de adormecer, enquanto não aterra, antes do salto para o outro lado da cama como se aquele espaço fosse outro continente. Nem a Maria, sua grande amiga das confidências mais vergonhosas. Só uma pessoa lhe chamou a atenção para a fina mudança: a empregada palradora. Disse-lhe: "Não me diz o que aconteceu ao vestido que justifique a nódoa, vou arriscar e colocá-lo na máquina". Foi a verdade, ficou o risco.