terça-feira, 9 de novembro de 2010

Nem a um gato

"Não queria que ele me tivesse contado a verdade, toda a verdade como dizem". As palavras chegavam às frases em atropelo. Arminda falava rápido. "Se ele não tivesse dito tudo o que lhe passava pela cabeça, tinha ficado mais um pouco para ver o que aquilo dava, se crescia, se minguava". Helena interrompeu-a: "Esses são os gajos crianças. Conheço o tipo. Não chegaram a aprender como viver relações de proximidade. Se eu dissesse tudo o que me vem à cabeça, bem, seria bonito!" Arminda concordou. "É capaz de ser isso! Achas normal que alguém te diga que começou, estranhamente, a sentir vontade de conhecer outras pessoas para poder perceber se é contigo que quer ficar?"Helena olhou-a com compaixão. "Claro que não se pode dizer isso a ninguém, nem a um gato!". Arminda estava tramada, pensou, mas não o disse. "O Miguel estava a revelar-se um autista imaturo e o pior estaria para vir", pensou. Arminda, por seu lado, tinha uma ideia fixa. Já a tinha levado com ela para aquele café, convertido, sem darem conta, em lanche ajantarado. "Helena não perceberá os meus dramas, sei disso, mas vai apoiar-me".

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