quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O segredo dos seus olhos

Elisa tinha insistido muito com o Manel para ele ir ver o "O segredo dos seus olhos". O filme estava desde a Idade Média no cinema King e, claro, já se tinha interrogado com os motivos de tanto sucesso. Escolheu o dia em que tudo lhe tinha corrido mal para ceder. Comprou o bilhete, sentou-se, reparou na plateia generosamente mais velha e ficou à espera. Os diálogos eram poupados e certeiros. Mas facilmente percebeu o recado da Elisa... o amor que se fez esperar, as frases finais: "Tens a consciência de que vai ser difícil!". Manel fixou-se, porém, noutra história paralela. Na do homem que morreu, foi morrendo, anos a fio, enquanto vivo. "Será que não se pode dar a volta diante da pior tragédia?", pensava, pensava. Quando chegou a casa, e disse que tinha ido ver o filme, Elisa perguntou: "Gostaste, não gostaste?". "Sim, mas não me apetece falar disso. Não me apetece falar". Manel foi depois à garagem buscar o caixote de fotografias velhas e trocou um noite de internet por um serão de recordações.

Sem comentários: