quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Bonito, bonito

A minha avó adorava histórias de pessoas. Sem ter propriamente a paciência que se pede aos psicólogos, ouvia muitas. A mim, ia-me falando de uma ou outra, com o objectivo de eu aprender como eram as coisas. Foi com ela que aprendi que não há pessoas boas, más, bonitas e feias. Mas já lá vou. Uma das histórias que mais me impressionou foi a de uma senhora que batia na mãe que, velhota, se tinha tornado insuportável. Não batia para aleijar, mas dava-lhe uns tabefes. A minha avó contou-me um lado da história logo seguido do outro. Sem intervalo. E como reacção ao meu choque, ainda me disse: "Mas nós não sabemos tudo". Outra que jamais esquecerei é a do senhor que tinha seis filhos da esposa, mais uns quantos da amante, conhecida da esposa e residente na mesma rua, e com quem este fazia abortos a quem precisasse na região. Claro que isto é apenas a síntese mais curta. O que fazia também com gozo, e eu adorava, era levar-me a reparar em pequenos detalhes das visitas: "Percebeste aquilo?". Conclusão: ela via as pessoas e não os bonecos que estas apresentavam. Não me lembro de ela dizer de alguém:"É bonito, é feio". Ela não as via assim. Considerava atributos muito mais interessantes. "Tem um ar saudável; soube apresentar-se; mantém o seu quê de criança; é um trauliteiro; tem energia; vai longe; este promete; esperteza não lhe falta; este sabe; mete-se nos copos ou coisa parecida; deve ter pancada; é amigo a valer; tem cabeça de vento; sempre foi assim; tem fibra; é casmurro; não sabe o que quer", podiam ser frases dela. Não me lembro de outras que seriam mais elaboradas. Mas enquanto isso, lembro-me dela.

1 comentário:

Anónimo disse...

Spot on with this write-up, I honestly feel this amazing
site needs a great deal more attention. I'll probably be returning to see more, thanks for the information!

Feel free to visit my homepage - best value electric toothbrush