terça-feira, 8 de abril de 2008
Banco da frente
Tinha-se tornado um hábito. À frente ia sempre a cadela, por causa do pêlo que tinha deixado das viagens anteriores. No banco de trás do carro, ia a esposa. Foi assim durante 12 anos. Quem os via passar estranhava, mas eles viam o quadro com normalidade. Aos poucos, Tony começou a falar mais com a cadela do que com a Alzira. Ela estava noutra. Foi-se dedicando mais às amigas e parecia divertir-se com elas. Com ele, já nem os solavancos em cima da máquina de lavar a roupa eram por aí além. O que era excitante há uns anos, deixou de o ser. A máquina foi-se tornando mais lenta e barulhenta, deixando de dar o compasso certo. Ele distraia-se pelo meio e chegava a falar das formigas numa pausa curta para respirar. Enfim, as paredes ganharam humidade e ele deixou de deslizar tão bem dentro dela. Com a cadela, a relação foi ganhando pontos. Como ela não lhe respondia nem o punha em causa, ele contava-lhe tudo, até os sonhos mais tolos e os medos mais pequeninos. Nas alturas de tomar decisões, pedia-lhe para ela ladrar. Se o fazia com pausas era por que não. Se não parava e era uniforme no latir, a resposta era afirmativa. Hoje Tony está separado de Zulmira e com menos 20 quilos. Perdeu a barriga e está outra pessoa. Quando a decisão foi tomada, a Jolie latiu durante 10 minutos sem parar. Pois é: Zulmira foi à vida e a cadela ficou. O lugar da frente continua a ser seu.
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1 comentário:
Bem.. bem vinda ao Rockmântica senhora rockmântica mas tb lhe deste com gás ;)
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