terça-feira, 8 de abril de 2008

Almofada

Casa e cama são fundamentais. Lembrou-se do que a mãe lhe dizia: "Sempre na horizontal". Basicamente era isso. Sempre teve uma predilecção especial por estar deitada, mas não era propriamente para dormir. Bastava ter os pés fora do chão. O gosto foi crescendo de tal forma, que transformou o escritório numa cama gigante. Parecia um recreio de criança, mas com ar de escritório confortável. Quem o descobria, quando ia lá casa, desconfiava logo de comportamentos fetichistas. Mas não era nada disso. Era ali que descontraía e só por um vez, quase por engano, mais exactamente por lapso, é que deixou alguém encolher-se ao seu lado em cima do colchão. Entre computadores, mesas de som e uma pilha de discos vinil gastos pelo tempo, embora fossem compras recentes, arranjou espaço para mais uma almofada. Dormiram sob vigília, na expectativa de um gesto ligeiramente mais intrometido. Ele não tomou a iniciativa e ela deu graças no dia seguinte por ter sido simplesmente assim. Matias disse-lhe de manhã: "O dia vai ser mau, a noite foi tão tranquila". Choveu muito nessa manhã.

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