segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

O que querias tu sei eu

Joana tinha decidido dizer-lhe sempre o contrário do que achava que ele queria. E não é que finalmente parecia que o Rui tinha reparado nela. Arre, que às vezes é preciso usar um método radical, pensou. Aproveitou o estar com os copos - quatro vodkas mais exactamente - para lhe dizer que ele devia ressonar, que se notava que tinha problemas respiratórios. E ninguém quer ter um namorado que ressone. Noites mal dormidas desfazem um casamento. Seja por causa dos filhos ou por causa da vizinha maluca. É verdade que o Rui aterrou, por segundos, nos olhos dela. Mas não foi ternura que saiu dali. Resolveu desafiá-la. Disse-lhe que lhe tinham contado que também ela ressonava. Joana ficou estática. Pôs as mãos ao alto, como fazia quando brincava aos cowboys, e rendeu-se. Corada e com uma lágrima prontinha a cair, disse-lhe que o que ela queria dizer não era bem isso. Que estava treinada para não dizer claramente o que lhe passava pela cabeça. Ele perguntou-lhe então: O que te está a passar pela cabeça? Ela respondeu: que achava que só provocando-o ganhava a sua atenção. Ele disse-lhe que não gostava que ela fosse tão espalhafatosa. Preferia a versão tranquila, como ela estava naquele dia em que foram passear e deram por eles à beira Tejo a comer salgados. Ela lembrou-se que a Marina já lhe tinha dito que ela ficava diferente quando o via, transformava-se noutra pessoa. Até falava mais alto.

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