Desilusão. O Zé tinha-a avisado. Carlota estava de rastos. O Hugo não era para ela. Ele via-a com mais uma miúda engraçada. Carlota achava que era capaz de ver como os outros a viam a ela. Com algumas pessoas acontecia de imediato com outras num quadro específico de tensão, por mínima que fosse. Baseava a paixão também na imagem que achavam que tinham dela. Não bastava acharem-na inteligente, exigia o lado atrevido. Hugo gostava tanto da sua companhia como da da Rita, da Clara e da Mariana. O mesmo. Sem mais nada de diferenciador. Achou que poderia ser de outra maneira por ele lhe contar um segredo e pela forma que o fez. Foi a conta gotas e entre várias investidas ao pescoço. Quando descobriu que ele a via com mais uma peça de convívio nocturno, ficou abatida. Viu melhor os poros negros que tinha na cara. Saltaram cá para fora. Ele levou para a cama a namorada do melhor amigo só porque estava com frio naquela noite. Carlota estava muito cansada. Foi o Zé que conseguiu proporcionar-lhe o melhor momento daquele dia nublado. Toma lá um presente.
"Os pássaros querem lá saber
Do alto vão à vida
olhando em frente
mornos lisos compenetradíssimos
corrigindo só de quando em vez com ligeiro acerto
algum encontrão do vento"
Paulo Pais, "Gravador de chamadas"
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