segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Maldito YouTube

"Na caderneta dos desconhecidos com quem tenho uma empatia estranha, está um homem barrigudo", contava Alice, enquanto caminhava à beira Tejo, para os lados de Belém, num dia fresco cheio de vento. "Barrigudo?", perguntou Carolina. Explicou-lhe que se trata do empregado da pastelaria onde vai dia sim, dia não, tomar café. Corpulento, com cabelo louro farto, que prende com um rabo de cavalo, ele tem qualquer coisa, inclusive, além da forma firme e atenciosa como a atende. Diz que tem a sensação de que ele a vê como uma mulher na casa dos 30 inteligente e apetecível. "Bahh, que estranho!", reagiu Carolina. "Não gosto nada disso!". Alice explicou melhor: "Com o João sou a distraída de quem é preciso tomar conta; com o Rui fui a menina; com o Jacinto, bem, era uma canseira acompanhá-lo com as novidades dos livros e dos discos. Maldito YouTube!...". Nata - foi mesmo assim que os pais a resolveram chamar - interrompeu-a para dizer: "Mas sabes lá como é que esse te vê! Isso é coisa da tua cabeça. Talvez não veja nada, simplesmente és mais uma cliente". Alice barafustou: "Não o posso confirmar, é verdade". Carolina arrumou com a conversa: "Mas barrigudo?". Alice explicou que a barriga não lhe interessa nada, serviu só para dizer que não era propriamente uma pessoa atraente. Isso não vinha para o caso. "O que me atrai é outra coisa". "Mas sabes o que é?", perguntaram as duas ao mesmo tempo. "Acho que descobri agora", disse, em slow motion. "Tem a pele do meu avô".

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