segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Quase

Descia a Almirante Reis para curar as mágoas, quando encontrou o mendigo de olhos de azuis lumimosos que costuma ver todos os dias quando vai para o trabalho. Ele estava fora do sítio. Rita estava fora do sítio. Por isso lhe falou. Ele contou-lhe que lhe chamava José, Zé, e que tinha tido uma vida antes de enlouquecer. Agora já estava quase bom, mas ainda não estava completamente bem. Quase? Como sabia ele que estava quase bom, perguntou a Rita olhando-o como deve ser: olho com olho. Ele respondeu-lhe que antes via o mundo como uma ameaça. Exemplo: uma simples folha de árvore podia ter o poder de o atingir e desfazer. Logo ele que nunca gostou de ficção científica. Então, e depois? O mais arrepiante foi quando começou a ouvir mais coisas do que aquelas que as pessoas diziam. Ele sabia disso, mas foi ficando cada vez com mais dificuldade em diferenciar o que tinham dito do que tinha imaginado. A Rita estava estupefacta, não com o que ele contou mas com a maneira lúcida como o fez. Mas porque estava ali? Porque não voltava a ser contabilista ou então outra coisa que conseguisse fazer com a sua formação? Zé riu-se. Estou sempre na hora de expediente na Avenida de Paris, não é? É por lá que me vê sempre. Pois, eu trabalhava ali. Agora fico à porta. Estou quase bom.

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