domingo, 27 de janeiro de 2008

I've got the power

Deixam escapar palavras e frases que na maior parte das vezes surgem desconexas. Vejo-os a mexer os lábios. Já ouvi dizer: "Não aguento mais isto". Saiu da boca de uma senhora transpirada, quando esta estava prestes a fechar o pequeno estabelecimento de restauração. Enquanto se cruzava comigo na rua, um outro sujeito de cabelo oleoso, cheio de gel, ainda por cima mal espalhado, falou baixinho: "Não está bem. Que horror!". E fiquei na dúvida se aquilo se dirigia às minhas botas velhas e com costuras soltas ou se era uma reacção aos seus pensamentos particulares. Botas? Lembrei-me logo da piada que a Pipoca - chama-se assim por ser viciada em pipocas - contou: "Deixei de usar botas por cima das calças por lhe terem dito que estava, "out", fora de moda. Ao que o namorado respondeu: "Mas claro que são 'out', compraste-as num 'outlet'". Enfim, um pequeno desvio... À medida que somava cenas e mais cenas que têm em comum o facto de incluirem pessoas a fazer desabafos, sem aparente consciência, deduzi: Será que consigo ler o pensamento dos outros? Ou simplesmente fazer com que eles soltem mensagens mecânicas? Terei um poder? Bem, se assim é, o que dirá a pessoa de quem gosto sem dar por isso? (Atenção, ele não sabe que me derreto quando está por perto). Peguei nas pernas e lá fui. Quando fiquei com ele uns minutos a sós, fixei-me na boca dele. Era assim que se activava a reacção. Passado um pouco, ele sussurou baixinho. Não percebi. Dirigi então o olhar com maior magnetismo e o Mário disse: "Apetece-me comer sardas".

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