sábado, 8 de setembro de 2007

Boleia

A última vez que andou à boleia foi muito divertido. Naquele dia tudo correu o melhor possível. Depois de uma noite mal dormida, Joana gostou de acordar e ver o Nuno esticado ali ao lado. Naquela manhã não deu para dar cambalhotas matinais, as suas preferidas, mas também sabia que se deve evitar tornar hábito o que é bom, sob pena de este perder a graça. A funcionar em câmara lenta, vestiu-se e foi apanhar o autocarro. Só que o autocarro já não estava lá, quem lá estava era a prima que igualmente chegou depois da hora. A camioneta da carreira, como dizia o avô, tinha partido. Ficaram as duas sem transporte e tinham prometido não faltar ao almoço de família... Cristina lembrou-se que havia quem apanhasse boleia ao pé do cruzamento, na saída da cidade, e assim fizeram. Escreveram: "Boleia para duas até Riscado". Parou uma carrinha e um senhor dos seus 50 anos perguntou porque estavam ali. Vinha acompanhado do filho de 20 e de uma rapariga mais nova: uma vizinha que os ajudava na distribuição. A sua família precisava. Morava num barracão com apenas uma parede de tijolo. As restantes eram feitas de lata. "Podem vir meninas, mas têm de se arranjar lá atrás", disse. Entraram e foram encontrar caixotes e mais caixotes... cheios de soutiens e cuecas. Vendiam roupa interior a retalho. Cristina ainda vestiu uns de copa gigante por cima da roupa. Joana apreciava os modelos variados. O senhor Miranda virou-se para trás e ainda lhes disse: "Ha, parece que caíram no caldeirão dos soutiens!". Depois da risota de dar dor de barriga que sucedeu à primeira história, o senhor Miranda não se calou. Percebeu que tinha uma plateia receptiva. As piadas com as clientes eram hilariantes. A carrinha acabou por fazer um desvio para as deixar à porta de casa. Sempre chegaram a tempo do almoço, embora a mesa já estivesse posta, o que era suposto fazerem. Em família, quando falaram do que se tinha passado (na versão oficial não foi uma boleia de um anónimo mas de um conhecido de uma amiga, previamente combinada), a avó contou que quando era nova os soutiens pretendiam era espalmar o peito. Lembrou ainda que até o cabelo se passava a ferro. O avô, que mostrava os primeiros sinais de Alzheimer, lá disse: "Sempre tiveste foi uma pernas muito bonitas. Ainda hoje tens!".

2 comentários:

Anónimo disse...

Quase que consigo ouvir os pregões sr. de microfone ao peito, enrolado num lenço: Atoalhados, comprerm atoalhados!
E claro lembraste-me de uma musica muito cara a mim e aos meus colegas de trabalho que reza assim:

Já decidi que de amanhã em diante
deixo a vida das cantigas
vou-me meter de feirante.
E já pensei no que vou vender
são artigos de sra do melhor que possa haver.
Calças, calcinhas, soutiens, cintas, blusas
meias e mini saias como essa que tu usas.
Mas é nas meias que vou maior sortido
aquelas que bem esticadas chegam até ao umbigo

Quem quer comprar
são as meias de baiona
chegam das pontas dos pés até às orelhas da com..
comprem agora são baratas, são modernas
são as meias de baiona e dão beleza à vossas pernas

São pra avozinha, pra menina, pra mama
meias pra todos os gostos sejam de vidro ou de lã
e cuequinhas, pretas, brancas, amarelas
com folhos e rendinhas, quem é que não gosta delas

Na minha tenda todas podem vir comprar
de certo mais barato vocês não vão encontrar
e lá na feira a certeza podem ter
quem for ao rei das meias não se vai arrepender

Quem quer comprar
são as meias de baiona
chegam das pontas dos pés até às orelhas da com..
comprem agora são baratas, são modernas
são as meias de baiona e dão beleza à vossas pernas


Bjos

Laura Ramos disse...

Esta miuda é uma caixinha de surpresas. Quem diria que teria tais versos na memória. ADORO! :-D