segunda-feira, 22 de abril de 2013

peixinho

Josefina disse-lhe para aparecer às 19 horas no Cais Sodré. Ele não sabia ao que ia. Quis saber, mas não teve sorte nenhuma. Quando ele chegou, desfez-se um pouco e disse-lhe: vamos apanhar o barco. Os olhos dele brilharam muito. Viu neles escapar uma ligeira faísca, mas deixou a razão falar mais alto e arrumou rapidamente a percepção pouco realista. Não podia ser, ponto final. Lá foram. Subiram ao convés e ali permaneceram calados, a ouvir o barulho do motor, a água cortada pela ventoinha, de olhar fixo na outra margem. Quando saltaram para terra, começaram a dizer piadas sem piada. Funcionou bem. Desbloqueou a conversa e até o corpo tenso de Josefina. Beberam umas imperiais e puseram-se a caminho à beira Tejo. Objectivo: restaurante atira-te ao rio. Podia ser assim o fim de uma relação. Não era essa a ideia de Josefina. No regresso, parecia que tinham avançado meses numa paixão de horas. De vez em quando empurravam-se um ao outro, ombro com ombro, que nem miúdos de quarta classe. Tiveram de acelerar o passo para apanhar o último cacilheiro. Frio, estava muito frio, frio firme. Um mais despenteado que outro. Estavam gelados. Estavam gelados e comeram-se.

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