terça-feira, 18 de setembro de 2012

Pata

Enquanto ela falava, falava, os olhos dele acompanhavam cada vírgula. Ela inclinava a cabeça e ele reagia sempre com outro movimento qualquer. A cadela colou-se aos pés da Josefina assim que chegou à esplanada. Estacionou ali de forma familiar. Quando chegou a altura de ele dominar a conversa, Josefina colocou as mãos entre os joelhos, fazendo uma sandes. Assim ficou, ligeiramente inclinada para a frente. Tinha-lhe sido diagnosticado zona, não podia encostar as costas à cadeira. Soprava um vento suave e ela lembrou-se do quanto Miguel gostava de chuva e tempestades, tanto quanto ela se perde de amores pelo vento. Coisas que passam pela cabeça sem que se faça esforço algum. A Pata, o nome da cadela, mexeu-se um pouco. Tocou-lhe na perna. Josefina afagou-lhe o pêlo preto brilhante. Uma e duas vezes. Ou mais. Pedro, o seu dono, gostava de estrelas e sabia tudo sobre elas.

Sem comentários: