terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Chá quente

Rita gosta devagarinho. Vai gostando aos poucos. Disse que era mais ou menos o procedimento de beber um chá. Começa por encostar os lábios e se estiver quente, a escaldar, espera um pouco, para que arrefeça. Sopra e aproveita para aquecer as mãos na chávena de novo. E bebe mais um golo. Um atrás do outro. Vai saboreando. Se gosta, bebe ainda mais pausadamente para que o chá dure e não acabe logo. Nem sempre o ritual corre bem, chegou a queimar a língua pelo meio por se precipitar. No outro dia, entrou-lhe pela porta da padaria portuguesa um amor antigo e tornou-se desastrada em segundos. Entornou o chá. Salpicou a mesa e o vestido novo. Teve a empregada de vir do balcão com um pano absorvente. "Está bem assim?", perguntou-lhe, por fim. Rita disse-lhe que sim, embora a resposta correcta fosse: "Nem por isso". Pediu outro chá.


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