domingo, 2 de janeiro de 2011

Desculpa

Convidei-o para um café. Cheguei mais cedo cinco minutos, escolhi a mesa mais ao canto, sentei-me e comecei a recuperar o que tinha planeado dizer-lhe desde a semana passada. Tinha de lhe dizer que a minha cabeça me tinha atraiçoado. Ficou à solta sem eu querer. Virou-se sem eu fazer por isso, começou a sentir falta de uma camisola de lã quentinha a quem se tinha abraçado no outro dia. Mas isso não lhe podia contar. Essa parte tinha de ficar de fora. Ele chegou em passo lento. E quando me olhou com brilho nos olhos, percebi que ia ser muito difícil dizer-lhe o que tinha de lhe dizer. Andava há dias perturbada, com um amargo boca, como se me quisessem enfiar um pedaço de carne pela goela abaixo, à força, estando eu na minha fase vegetariana. Depois de umas piadas, comecei a parte séria da conversa: "Não sei como te diga isto, nem sei como te explicar, não controlo a minha cabeça. Se a controlasse, ficava contigo. Mas não a controlo e ela foge-me noutras direcções. Não tens culpa. Desculpa". Ele pediu-me para não lhe pedir desculpa. "Isso nunca". Desde aí, nunca mais pedi desculpa a ninguém.

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