domingo, 5 de dezembro de 2010

Vai tirando a roupa

Catarina guardou as melhores frases. O que de melhor lhe haviam escrito. Algumas delas eram versos soltos. Outras meras manifestações de bem estar. Naquela tarde de pouca luz, resolveu arrumar gavetas e enfiar-se dentro da sua cabeça. Foi à caixinha de cartão pardo e retirou de lá os papelitos. Alguns estavam velhos, encardidos. Quando encontrou a post it, ligou-se de imediato ao seu passado com o Pedro. Numa tarde de inverno, ele havia-lhe escrito: "Tu és o meu aquecedor!". Em tom diferente, se apresentava a observação do Tiago: "Adoro a forma como vais tirando a roupa!". Mário utilizava uma lógica infantil: "Tenho o peito inchado, o coração cresceu". Do António só poderia ter saído uma ideia assim: "Quanto mais gosto de ti, menos gosto de mim". Uma das suas declarações de amor preferidas não aparecia, não aparecia, não aparecia. Era a do Rui. Onde está o pedaço de jornal onde ele escreveu aquilo? Não estava. O Rui tinha-lhe escrito qualquer coisa próxima disto: "Antes um dia bem passado contigo. Sempre antes um dia bem passado contigo."

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