domingo, 5 de dezembro de 2010

Fala e mata

De há três meses para cá, João começou a sair mais vezes com a Maria. Foram-se aproximando. O sair mais vezes traduz um café de 15 em 15 dias, o que é uma média razoável sabendo nós que viviam os dois em Lisboa. Na outra noite, deu-se um deslize. Maria desequilibrou-se no degrau da porta de sua casa e agarrou o João pelo pescoço. Depois, beijaram-se. As bocas estavam mesmo ali. João correspondeu bem. Foi meigo. Até aqui, nada de extraordinário. No dia seguinte, quando a Maria telefonou, o João disse-lhe que tinham de falar do que se tinha passado. Segundo a Carlota, a quem a Maria ligou a contar e a pedir conselhos, era um péssimo sinal. Se tinham de falar do que aconteceu, seria para matar a história. Depois, o João foi adiando o encontro. Outro mau sinal, apontava a Carlota. Entretanto, passaram-se dois meses. Quando o João encontrou, por acaso, a Maria no café do Maria Matos, não teve alternativa se não ficar mais um pouco para falar com ela. "Então?", perguntou a Maria. "Tudo poderia ser de outra forma, mas sou gay!", disse o João. "Porque não me disseste?". Estava indignada. "Contigo sou gay!". "Comigo?". Com um olhar firme, o João tentou explicar: "Já estive com uma miúda com quem não fui gay!".

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