domingo, 12 de dezembro de 2010

Dona teresa

As vistas eram largas naquele apartamento da Avenida Estados Unidos da América. Podia ver-se a cidade em tamanho grande, Lisboa em 360 graus. Do aeroporto, ao Cristo Rei. Sara arquivou aquelas imagens. Pestanejou entre elas, como se de um registo fotográfico se tratasse. Depois de um jantar saboroso, a malta sentou-se na varanda e ninguém se queixou do frio, apesar de se estar num nono andar, em Dezembro. Fumou-se e bebeu-se. Os gins perderam para os vodkas. Primeiro falou-se de adopção. Depois, quando a conversa entrou em desalinho, disseram-se muitos disparates. Pelo meio andou-se de baloiço - havia um na varanda - dançou-se na cozinha. Sara dançou sozinha, retirada, uma música calminha. Também na cozinha, uma das paredes era envidraçada. Sentia-se ali com um pé na rua. E pensou no Pedro. Pensou no quanto ele iria gostar de estar ali. Tinha a certeza disso e se há coisa que a Sara não é, é uma mulher de certezas. Por isso era tão tolerante. No regresso à varanda do convívio, Afonso falava da dona Teresa. Dona Teresa para aqui e dona Teresa para acolá. Duas das pessoas presentes sabiam muito bem quem era a dona Teresa. Para Tomás, tratava-se de uma pessoa insuportável. Não respeitava quem estava a escrever na redacção. Entrava por ali adentro, sem aviso, com o aspirador. Usava-o como se fosse uma arma e começava a disparar. Um incómodo. A melhor história acerca da dona Teresa foi contada pelo Afonso. No ano passado, na altura da passagem de ano, Afonso abraçou-a, e enquanto lhe desejava bom ano, na parte do afastamento dos braços, deu-se um beijo na boca. "Beijaste a dona Teresa?", perguntou Tomás, atónito. "Beijei".

1 comentário:

Tomás disse...

Porra!
E não é de ficar atónito?

Tás lá!