quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Uma aventura

Olhou para cima, para a janela, mais uma vez antes de se lançar na aventura. Conseguiu que alguém lhe abrisse a porta de baixo para chegar às escadas. Cada degrau que fazia era um grande passo. Estava obstinada. Tinha de ir lá e mandar vir com ele. Falar, falar, falar. Assim foi. Ele abriu a porta e nem teve tempo para dizer o que quer que fosse. Ela já estava a discutir sem a participação dele. Tinha um jeito engraçado de dialogar. Fingia ser ele e respondia ao que tinha acabado de dizer. Ele estava estático. Mantinha-se silencioso. Ela ia explodindo como podia, bracejando, batendo com o pé. Assim se consumiram 22 minutos da vida deles. Até que ela se sentou. "Estou cansada", disse. Ele pôs-se ao seu ao lado, olhou para baixo e começou a dizer que não estava a perceber nada. Josefina pediu-lhe, entretanto, um copo de água. Bebeu-o e saiu porta fora, deixando-a aberta. Ele fechou-a. Em sistema piloto automático - David costumava dizer que de vez em quando funcionava em piloto automático - foi até à janela, abriu-a e deu por si a despejar o copo de água que tinha na mão. O líquido fez uma curva para lhe acertar em cheio. Parecia comandado. Ele viu Josefina de cabelo molhado a afastar-se. Josefina não se virou nem nada. Naquele momento, David pensou: como ela ficava tão bonita de cabelo a pingar. Pensou nos banhos deles. A ideia durou 5 segundos mas caiu. Gostaria muito mais dela se ela fosse muda, passou-lhe pela cabeça.