segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Uma esquina
Com as férias, as ruas ficam quase desertas e sobressaem os que ficam. Hoje encontrei muitos perdidos na cidade. São loucos, mais ou menos atordoados, não sei bem. São os que não puderam ir de férias. Ficaram. Lembrei-me do que o Zé dizia depois de um dia de banco no hospital: "Leva-me a um sítio bonito que não aguento tanta miséria". Eu levava-o. Era assim que cada encontro se fazia. Ele conhecia mais uma esplanada, um canto da cidade, um café, uma galeria, um restaurante, uma parede graffitada, uma rua, um beco, uma loja de discos baratos, uma feira de antiguidades, um elevador, uma esquina, um pátio interior. Eu esforçava-me por ter sempre algo novo para lhe mostrar. Até que, aos poucos, se foi tornando mais difícil fazer-lhe a vontade. Resolvi então começar a mostrar-lhe pessoas. Fiz-lhe a proposta. Ele reagiu mal. Não queria amigos novos, porque estava farto de pessoas, de falar com elas, de as atender, de as tentar salvar. Não queria nada disso. Ficou muito irritado. "Quero lugares", disse. Foi nessa altura que lhe coloquei a questão: "E eu?" Ele respondeu: "Tu não contas".
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1 comentário:
Uf... Valeu a pena esperar. Como sempre;).
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