terça-feira, 26 de agosto de 2008

Saltar à corda

Gosto das cidades por serem mais democráticas. As pessoas misturam-se e a rua principal não é uma passarelle como acontece na minha terra pequena e conservadora. Elsa justificava desta maneira a sua relação com o sapateiro do seu bairro. Na sua vila, seria impensável encontrar um sapateiro que adorasse documentários a ponto de os fazer. Em Lisboa, nunca se sentiu uma mulher sozinha, mas uma rapariga de 30 anos que prefere ir ao cinema sem companhia para poder afastar-se das trivialidades dos outros. Se for à sexta-feira, o fim-de-semana começa mais cedo. Duas horas depois, já esta noutra. Quando chegava a casa e não tinha com quem falar, pensava que tinha de aproveitar aqueles momentos. Pois eles iriam acabar. O que temos acaba sempre. Pode apenas gastar-se, mas muda. Desde que está com o Rui nunca mais saltou à corda na sala. Não é que não o possa fazer. Mas não fica bem nesta fase. É preciso estabelecer marcos. Agora anda de bicicleta. Sozinha, pela manhã, enquanto ele ainda dorme. Antes que este acorde, já está outra vez enfiada na cama e de banho tomado.

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