quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Que nervos

Sempre que estava por perto o Tomás, ficava desajeitada. Parecia tolinha. Com os nervos, não dizia nada de interessante, as piadas pareciam gastas. As mãos transpiravam e o nariz começava a pingar a conta gotas. Naquele dia, aconteceu pior. Disse-lhe à descarada que estava com saudades dele. Tomás franziu o sobrolho, mostrando a sua estranheza. Ela calou-se desde aí. Naquela noite não disse mais nada. Quando este lhe ofereceu boleia, ela recusou, dizendo que estava à espera de um amigo noutro sítio. Tomás insistiu em ficar com ela até que o amigo chegasse. Ela recusou com firmeza. Ao afastar-se dele, foi pensando que não seria assim tão grave ter-lhe respondido que tinha saudades dele, quando este lhe perguntou como ela estava. No semáforo, quase ao pé da esplanada nova do Teatro Dona Maria, um carro apitou e uma voz saiu pela janela. Era o Tomás, que se ia embora. Ela disse-lhe adeus, mexendo ligeiramente a mão. E ficou a olhar enquanto ele desaparecia do campo de visão. Tornou-se pequeno e desapareceu. Depois, caiu-lhe a tristeza em cima. Sentiu-se espalmadinha no chão. Uma bolacha belga. As pernas ficaram cansadas e sentaram-se. Esperou que o concerto de jazz começasse, em pleno Rossio. Mas às primeiras notas, saiu. Foi-se embora.

Sem comentários: