terça-feira, 8 de julho de 2008

Uma peça de fruta

Hugo disse-me que gostava do meu cabelo. Gostar do cabelo de alguém em detrimento do sorriso franco, do modo de alguém de se mexer, da voz, da pele, é uma novidade para mim. "Gosta do meu cabelo, bem, estou tramada". Pareceu-me tão superficial. Fiz o que qualquer rapariga normal faria. Fui a uma loja de cosmética e comprei um bom creme, uma máscara cara e um shampoo de marca francesa. Tinha de me cuidar, não fosse por aí que o namoro ficasse sem graça. Ele provou-me que adorava cabelos. Dava as voltas que fossem precisas na cama para conseguir ficar com o meu cabelo na sua cara. Dormia assim. Deixei crescer o cabelo, não tinha grandes preocupações com a depilação, e comecei a poupar na maquilhagem. Ia apenas usando a que tinha. Na festa de despedida do António, falou, porém, das maças do rosto de uma amiga comum. Não me lembro de lhe ouvir observações do género durante esse tempo todo. Era daqueles que poupava elogios. Um elogio era um óscar. Perguntei-lhe. Respondeu-se sem demora: "Gosto de cabelo porque eu não tenho cabelo, haa!. Gosto das maças do rosto da tua amiga porque estou com fome: apetece-me uma peça de fruta".

1 comentário:

Anónimo disse...

MUITO BOM....