terça-feira, 22 de abril de 2008

Um barco

Rui ofereceu-me um barco minúsculo que passei a usar como amuleto. Quando nos conhecemos, estávamos fartos da vida que tínhamos, o que me levou a pensar que a faísca teria sido motivada pela circunstância. Um dia falei-lhe que gostava de ter um barco no Tejo. Ele disse-me que tinha um na banheira que o acompanhava desde pequeno. Quando tinha 5 anos, sonhava ir com ele a África levar gelatina aos meninos que passavam fome. Aos 15, imaginava o barco a chegar ao Japão, onde iria comprar o último modelo de computador Toshiba. Aos 18, estar lá em festa com todas as miúdas que lhe agradavam nessa altura, incluindo a vizinha do terceiro esquerdo que tinha uma voz de rádio. Aos 25, sonhava ir para Nova Iorque passar uma temporada sem horários. Aos 35, conseguir remar contra a maré para deixar aquele emprego. Agora, aos 36, criava tempestades no banho de imersão para ver como a embarcação se safava. Enfim, julgo que o conquistei quando lhe disse que ele me fazia sentir em viagem. Ele não tinha essa noção, mas comigo tinha esse efeito. "Mas viagem como? Para onde?", perguntou, naquela tarde em que estavam os dois a aturar uma ressaca. Nunca antes tinha pensado nisso. Mas que me provocava aquela sensação de gozo própria da viagem, ai provocava. Bem, talvez fosse a sua imaginação. Talvez a sua imaginação gostasse da minha.

1 comentário:

Unknown disse...

sweet... se calhar devia tentar conquistar alguém de cada vez que tenho um pedaço de papel na mão e faço um barquinho... talvez resulte!

kisses,

S