domingo, 7 de outubro de 2007

Noite branca

Esteve aflita toda a semana. O director parecia que estava a implicar com ela. Sonhou com ele duas vezes: na terça e quinta-feira. Numa delas, ele pedia-lhe que corresse até que as veias saltassem das mãos. Josefa estava cansada. Sabia disso. Mas tinha poucas alternativas. Já não podia tirar férias: gastou-as com a doença do avô. Nem a hipótese de uma viagem a animava. Na sexta-feira bebeu vodka antes de sair para a rua para tentar rasgar com o que era a sua vida: 11, 12 horas de trabalho intenso; fazer jantares rápidos para o Alexandre (porque lhe deu para dizer que era boa cozinheira e deixou instituir que a cozinha era a sua área da acção?) ; ter encontros com a mãe na tentativa de a ajudar na recuperação psiquiátrica. Não parou de beber bebidas brancas toda a noite. Há dois anos que não o fazia. Evitava-o. Com o Alexandre não era preciso grandes estímulos. Ele sabia sempre como lhe dar a volta. Desde o dia em que lhe disse que por ela emagrecia, ela deixou-o ficar. Dia após dia. Emagreceu, sim, deixou crescer a barba e tornou-se mais pontual. Naquele noite, abusou do vodka. Josefa não conseguia parar de dançar. Lembrou-se de "Os cavalos também se abatem". Falou com muita gente que mal conhecia. Deitou conversa fora por três meses, pelo menos! Alexandre resolveu ficar um pouco à parte. E Josefa resolveu ir a um "after" (hours). Alexandre despediu-se sem lhe tocar. Ela deixou-o ir. No regresso a casa, ainda fervilhava em energia mental, embora o corpo já não lhe respondesse. Quando abriu a porta do quarto, não viu o Alexandre. Passaram-lhe mil coisas pela cabeça. Ficou à toa, chorou. Talvez as coisas já não andassem afinadas. Andou distraída. Seria o princípio do fim? O pior é sempre o princípio do fim. Dormiu como se morresse. No outro dia, acordou com o Alexandre a seu lado. Afinal, ele não foi dormir para casa da vizinha, sua amiga. Esteve a dormir no sofá enquanto ela inventava problemas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Afinal não acabou como Os Cavalos... uf, que alívio;)!