quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Ver ao perto

A conversa descambou para as fases em que cada um se encontrava naquele momento. Dito assim parece coisa de adolescente, mas como todos se conhecem muito bem, até bem demais, a troca de desabafos fez o ponto de situação. Como disse o Miguel, "situar é bom, mais que não seja para mudar imediatamente a seguir". Grande Miguel! Joana achou graça à fase de Luísa: "Quero lá saber!". Era, de facto, o que ela mais dizia nos últimos tempos. Fazia-o serrando os dentes no início, o que lhe dava garra. Aparentemente em fase positiva, Ana disse que se via na fase "falhar em grande estilo". Ok, fazia sentido, pensou Ricardo. No seu caso, teve de pensar um pouco. Lembrou-se que há dois dias tinha reparado na senhora da caixa do supermercado que tinha nome e cabelo de beta de Cascais. Chamava-se Francisca, tinha madeixas louras, falava como se fosse uma Pitucha qualquer. Imaginou alguém que resolveu mudar de vida. Enquanto isso, os pulsos chamaram-lhe a atenção: tinham cortes. Para empurar o cesto de mão, acabou por lhe mostrar os tornozelos. Tinham cortes. Era isso: a sua fase podia ter no título "ver ao perto". Além de o entreter a ponto de evitar devaneios protagonizados pela Mariana, que já tinha feito dele passado, havia um consolo existencial naquele nova forma de olhar para o que estava mesmo ali à mão se semear. O passo seguinte foi ir à consulta do oftalmologista, tantas vezes adiada. Estava mesmo a precisar de mudar de lentes! Quando chegou a hora de se sentar no sofá ao lado da Carolina reparou nos braços dela e estes pareceram-lhe irresistíveis. Queria-os para si. Não era muito apreciador de pernas. Essas são para andar. Se ela os vendesse, ele comprava-os. Delirou. Estava a começar a interessar-se por ela, mas isso foi coisa que cresceu na fase seguinte.

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