segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Difícil on-line

"Liguei-lhe tantas vezes, cheguei a fazê-lo de meia em meia hora. Pontualmente. Chateei-o tanto, que ele cedeu a marcar um encontro comigo. Acontece que o local era a porta de um prédio onde havia um consultório de um psiquiatra". A história da Felismina não fazia rir mas ainda era melhor: "Senti-me indisposta e dei por mim a fazer 50 quilómetros de carro. Acabei por o encontrar a tirar o soutien a outra". A Felismina, ele nunca o desapertava. Era sempre ela que o fazia. Felismina ainda tentou esquecer a cena. Ficou com ele até tirar aquela imagem da cabeça. Quando deu conta que a perturbação tinha morrido, mudou de casa. Foi viver para um T0 na Praça das Flores. Voltando atrás, a história da chata teve desenvolvimentos improváveis. No dia em que ela ligou a agradecer a ajuda psiquiátrica ele estava deprimido. O senhor seguro tinha-se tornado vulnerável. Os papéis estavam invertidos. Depois, ele ligou-lhe de volta a dizer que tinham de combinar um café. Ela ainda se fez difícil on-line por sete dias, até que disse que sim. Não dormiu sossegada a noite que antecedeu o encontro. "E o Zé? Iria trair o Zé?", perguntou à almofada. Transpirou e mudou de roupa por duas vezes durante a madrugada. Estava de rastos quando o enfrentou. Foi difícil disfarçar as olheiras. Tudo mudou assim que ele reconheceu, num tom de voz mais baixo, que sentiu falta dos seus telefonemas. Tinha passado um ano. Ela não estava a acreditar naquilo! Encheu o peito enquanto deduzia: Ele tinha-se tornado um álcoolico.

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