domingo, 16 de setembro de 2007

20 minutos

Já tinha reparado nele mas achava-o presunçoso. Calhou ter de utilizar o mesmo taxi que Pedro. Ana começou por falar do mau jornalismo feito por levianos. Ele contou-lhe do que estava a fazer para se tornar jornalista. Pensou que ele era novo. Não, não era. Tinha sido biólogo marítimo. Foi professor de mergulho. Estava agora a ganhar três vezes menos do que ganhava. Vivia com dificuldades. Na última semana do mês, comia sopa e bolachas para conseguir pagar as prestações do carro e casa. Em pouco mais de 20 minutos sintetizaram num tom sério a sua vida nos últimos cinco anos. O taxista terá gostado do que ouviu. Foi ritmado. 20 a 30 segundos para cada um. Parecia um ping-pong de palavras. Leva lá mais esta: "A investigação estava a fazer de mim uma alienado". Será que o taxista não grava o que se passa dentro do taxi? Dava-lhe 100 euros por aquela conversa. Quando saíram do carro, Pedro falou um pouco mais embaraçado. Antes de se despedir de vez, voltou atrás para lhe dizer que o que mais gostava do jornalismo nem era escrever, mas conhecer pessoas. Tinha a desculpa para se poder meter com elas e fazer perguntas. Ana reagiu com o seu sorriso 112. Tinha um trauma com aquele frase: "Conhecer pessoas". Ouvia-a logo com a voz do indivíduo que a traumatizou. Das poucas vezes que falou nele nunca lhe deu nome. Há coisas que quanto menos se dizem menos nos atormentam.

2 comentários:

Anónimo disse...

Menina D., a inspirada... o teu guardanapo, a tua torre gémea, enfim, fico sem palavras... mas há outra coisa que te queria dizer (e vem mesmo a propósito): baby, you look goooood on TV!... e que voz doce que tens;)... avisa, da próxima vez!

Anónimo disse...

Sorriso 112, desta nunca me teria lembrado, tironi tironi...em forma de lábios...já estou a imaginar i tironi da Manuela Moura Guedes...era mais um Sorriso de Camião Tir....
Maravilhosa