sábado, 9 de junho de 2007

Pouca terra, pouca terra

Sempre desejei conhecer alguém muito interessante num comboio. Tão interessante, de ter vontade de levar na mala para casa. Um dia sonhei que me casava num comboio. Numa das carruagens comia-se, noutra dançava-se, noutra esticava-se as pernas em confortáveis sofás que se moldavam às exigências da nossa coluna. O copo de água demorava o tempo da viagem. Ele estava vestido de revisor e dizia-me sempre a mesma coisa: "O seu bilhete, se faz favor". Acordei com barulho do "pouca terra, pouca terra". E com a sensação de estar o cansaço a substituir a boa disposição da festa. Queria que a folia acabasse, mas o comboio não parava. Foi essa inquietação que me despertou. O comboio nunca mais reduzia a marcha. Pelo contrário, ia acelerando, acelerando.

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