quinta-feira, 14 de junho de 2007

Beleza portuguesa

Quando o Rui lhe tocou ao de leve no braço, lembrou-se da cena do filme “Virgens Suicidas” de Sofia Copolla. Quem nunca teve uma assim, que alimenta duas semanas de paixão inebriada, perdeu uma das dádivas desta vida. Quando o Rui lhe passou os dedos pelo pescoço escondido pelo cabelo, Josefa não sabia se queria deitar-se com ele. Tinha 30 anos, um namorado obsessivo para apagar da cabeça. Um ex-namorado, desculpem o engano. Não tinha ainda o espaço disponível para receber informação de natureza tão matizada. Às vezes acordava a pensar que ainda tinha de dizer ao Rui qualquer coisa sem importância, mas que fazia sentido dizer-lhe. Agora não contava as estórias de sempre a ninguém. Engoli-as. Por vezes, dava por si a falar sozinha. Tinha de corrigir esse hábito. Se o Rui tivesse avançado de outra forma, sem esse modelo tão estabelecido de sedução, talvez o contacto tivesse outro resultado. Mas engate, ou lá o que é, estereotipado, criava-lhe repulsa. E isso acontece-lhe nos casos mais comuns do dia-a-dia. Na piscina, odeia que a olhem quando sai pela escada. Mesmo enquanto faz uma pausa entre “piscinas” fica incomodada quando uns olhos de lobo que a querem comer a observam enquanto trincam o lábio. Por isso põe o seu andar mais desajeitado. No outro dia, deu por si a pensar, enquanto deixava a piscina para trás e procurava a chave do carro, que devia ser difícil levar a vida sendo muito bonita. Implicaria estar sempre a ser perseguida, desejada pelos homens, cobiçada pelas mulheres, desejada pelas raparigas e pelos rapazes. Daria em doida. Faria uma plástica para ficar menos atraente.

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