domingo, 13 de maio de 2007

Miau miau

Cecília tinha uma vida sem graça, apesar das carteiras caras e dos sapatos espectaculares que faziam inveja às amigas. Na segunda-feira de manhã, a angústia era ainda maior. Crescia, crescia e quase a deixava sem ar logo depois do pequeno-almoço. A terapia: compras. Embora a tranquilidade fosse passageira, sempre ficava mais calma depois de passar pela loja. O empregado mais alto enchia-a de mimos e ela não era capaz de sair de lá de mãos a abanar. Pelo contrário, comprava sempre "umas coisinhas". Perguntou-lhe naquele dia: "Não veio ainda aquela carteira do anúncio da revista Miau, Miau?". O empregado não se conteve. Ela era a cliente conhecida por "miau, miau". Talvez estivesse na altura de a corrigir. Chamou-a um canto da loja e explicou-lhe que as peças "Miu Miu" estavam cada vez mais caras. Ela voltou ao erro: "Eu sei. A miau, miau anda pelas horas da morte. Mas alivia-me o stress". Justino resolveu ser frontal. Antes de lhe explicar tim por tim que não se dizia assim, mas assado. Ela antecipou-se: "Eu sei, mas estava à espera que alguém me corrigisse. Nunca ninguém o fez. Digo-o sempre na esperança que alguém o faça. Ninguém tem o coragem de o fazer. Pensam que sou uma tonta e eu desleixei-me, não provo outra coisa". Justino fez silêncio. Cecília: "Quando digo que adoro as malas trava, ninguém liga. Pensam que digo Prada. Mas miau, miau, é fantástico, não é?"

1 comentário:

maria disse...

Adoro!! Vou começar a dizer "os meus óculos miau miau" a ver se alguém me corrige.