domingo, 13 de maio de 2007

Barba

Encontrou-o vezes sem conta entre a esquina da avenida e o túnel. Contava com ele no percurso. Tinha uma ar amistoso, e uma barba rala como ela gostava. Refira-se que o Zé, o seu namorado, deixou de ter barba rala. Por causa de um problema de pele, ele tinha de se barbear todos os dias. Há dois anos e meio que não conhecia ninguém que lhe interessasse descobrir melhor ou ficar a curtir uma tarde de sol sem receio que a conversa esgotasse rapidamente. Bárbara resolveu segui-lo. Veio a saber que ele era informático, tinha uma namorada que trabalhava na Holanda, e era bom rapaz. A depiladora que trabalhava no seu prédio contou-lhe tudo. Quando a namorada vinha de dois em dois meses aproveitava para ir lá tirar o pelos e falavam muito. Até lhe trouxe um creme anti-rugas que ainda não tinha chegado a Portugal. Era um produto natural, claro. Na cabeça, cabem mil coisas, mil paixonetas e sinais a decifrar. Por vezes, há coisas que vão e vêm por passos de magia. O Zé voltou a ter a barba rala e ela deixou de reparar no Carlos. Pensando bem, nunca mais o viu. Bárbara não sabe se ele desapareceu, ou se foi ela que nunca mais reparou nele.

Sem comentários: