quinta-feira, 8 de maio de 2014

laranjas

Tinha uma atracção por salpicos, pirolitos e afins. Pequenos, mínimos, quase nadas. A sua história preferida inclui uma princesa e uma ervilha. A viagem mais marcante contou com o conhecimento de pessoas novas, uma delas quase sem dentes, apenas um na boca inteira, vendedor de laranjas redondas até mais não. Florival, seu nome, mostrava as gengivas, e não terminava as frases. Perdia-se antes da chegada do predicado. Era um falhado, disse. Assumido. Uns são gays, ele era falhado, atirou enquanto guardava a nota de cinco euros. Chegou a viver no Brasil, ainda passou por Angola. Viu gente de todas as cores. Jantou em mesas cobertas com toalhas chiques e talhares de inox. Deitou-se e adormeceu sendo amado mais de uma dezena de vezes. Este era o seu passado. Não teve descendentes. Foi despegando-se dos outros depois da primeira visão. Hoje vive em Silves e vende laranjas.

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