terça-feira, 7 de maio de 2013

casa da lista amarela

Era a primeira vez que passava férias acompanhada de duas amigas. Metiam-se na cama entre as 22 e 23 horas, depois do regresso do café da aldeia. A pedalar, iam de bicicleta, era uma galhofa pegada. O concurso da melhor piada. Bocas sobre colegas de escola, namorados improváveis, professores desajeitados ou segredos das festas de garagem. Interrompiam-se, riam-se muito. Faziam imitações. À terceira noite, conhecerem os amigos do Alfredo, o neto do vizinho da casa azul, que vivia no Porto. Duas noites depois, estavam a combinar um encontro, por volta da meia-noite, no pinhal colado à placa de entrada para a aldeia. Imitando as séries televisivas e os livros da Patricia e dos Sete, os Cinco eram para miúdos, planearam ao detalhe o encontro nocturno. Alguém bateria na janela três vezes e faria depois uma pausa. Dez segundos depois, repetiria os toques e sumiria. Saltariam então da janela em pés de veludo. Assim foi. O coração de Luisa nunca bateu tão forte. Nem na piscina, após as provas de bruços do segundo período. Teve de o apertar ao peito. Para se acalmar, mas também com intenção de abafar o som. Havia pouca claridade na estrada, as árvores ganharam cinzento. Ouvia-se o latido do cão vindo da casa de lista amarela. Não se lembra da temperatura, por isso não estaria frio. Mês de julho. Vestiam apenas camisolas largas, pintadas durante a tarde, depois do banho no tanque, que podiam ser dos irmãos mais velhos, não chegavam aos joelhos. Deram passos largos e saltaram estrada fora. Rodopiaram e dançaram para afastar o medo.

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