segunda-feira, 19 de novembro de 2012

triângulo

São João da Talha não fica muito longe de Lisboa. Mas parece. Antes de chegar lá, tem de se passar pela desordem urbanística que rodeia a capital. Há rotundas e mais rotundas, faltam direcções em algumas saídas, um labirinto. Ao longe, porém, está sempre o Tejo, imenso. Quando parava o carro, pensava: lá está ele. Certinho. O pavilhão desportivo de São João da Talha fica escondido. Descobri-lo foi difícil. Quase desisti. Um segundo antes de decidir regressar a casa, insisti mais uma vez. Ao longe, eis que se avistou um triângulo gigante de um telhado. E foi só seguir a direcção. À porta, um grande graffiti, onde podia ler-se "não se escreve nas paredes", ilustrado por um dos miúdos de costas a escrever essa mesma frase. Lá dentro, frio. O interior do pavilhão tinha cimento à vista, não o chegaram a pintar. Era preto e branco. Nem eu nem o António tirámos o casaco e sentimos necessidade de esfregar as mangas do casaco com as mãos por várias vezes. Cruzadas, a direita na esquerda, a esquerda na direita. Ora começava ele ora eu. Na segunda parte do jogo, alguém gritou da plateia: Vai à bola Pedro Crivo. Em tempos, foi nome a dar a um filho. Achei que estava a ouvir mal. A equipa de hóquei patins vinha de Coimbra e podia ser ele. Tinha acabado de cumprimentar um dos melhores amigos do Rui, o meu ex-namorado. Na segunda vez, tive a certeza e fixei o miúdo. Era o filho do meu ex-namorado. Contei pelos dedos. Tinha seis anos. Alto, o miúdo. Mais alto do que os colegas, alto como o pai. Se era parecido com ele? Ainda bem que perguntam. É parecido comigo.

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