quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Desaparecidos

Não estava ninguém na sala de espera. Um silêncio opaco. Em vez de duas pessoas na recepção, apenas uma, que demorou dois minutos a chegar. "Desculpe, já vou". Uma sensação de vazio. Há dois anos, Maria esperou 40 minutos para que lhe tirassem sangue das veias. Estava a sala repleta. Havia gente nos corredores com requisições verdes presas aos dedos. Ouvia-se falatório de quem se conhecia e de quem se ficou a conhecer naquela manhã, no laboratório de análises. Há dois anos, pairava a desconfiança, o fantasma, mas não sentia ainda a crise na pele. "O que se passa, é da greve do metro?". Abanou a cabeça ligeiramente para a esquerda e para a direita. "Agora é sempre assim. Evita-se o médico, não se fazem análises". O corredor do laboratório, sem quadros, despido, tinha crescido em comprimento. Maria sentou-se. "E os velhotes?". "Desapareceram".

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