sábado, 21 de janeiro de 2012

morcego

No meu prédio, a média de idades, se me retirar das contas e aos vizinhos novos do rés-do-chão, é 90 anos de idade. Por isso, costumo encontrar alguém parado nas escadas com uma mão em cima do corrimão. São as pausas antes de mais três degraus. Não vivem ali crianças, cães, mas há um morcego e soube-o da forma mais improvável. Ouvi-o numa conversa na tasca do Jorge. Ele estava tão impressionado. O Jorge, um homem forte sem medo de malfeitores, estava com os olhos presos, nem pestanejava. Um morcego? Uma pessoa a quem chamam morcego. A neta da senhora Alice, falecida antes do Natal, ficou de arrumar as coisas da avó enquanto não se põe a casa à venda. E foi ficando. No outro dia, a vizinha Mariazinha foi lá pedir-lhe um ovo, fez-se convidada e entrou. Conta que o apartamento estava imundo. Amontoavam-se pacotes de comida na cozinha. Do que espreitou no quarto, a roupa estava organizada em montes. Parecia a casa de alguém que perdeu o tino. Telefonou à filha da Alice e ficou a saber de tudo. A sua sobrinha era estranha. Na família é conhecida como o morcego. Fala pouco, pinta os olhos de negro profundo, não convive com ninguém, à excepção do namorado, igualmente figura sinistra. "Ela não lava roupa, compra peças e mais peças, todas elas baratas". A Mariazinha viu um barata gigante a sair da cozinha e está preocupada com um ataque em massa. O prédio tem um morcego a viver no terceiro andar e eu nunca o vi subir as escadas.

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