sábado, 21 de janeiro de 2012

no dia em que cresceu

Quando a Dulce se olhou demorada e profundamente ao espelho, como lhe desafiou a Marta a fazer, descobriu uma nova percepção difícil de aceitar. Era um pouco feia. Pelo menos, menos bonita do que se imaginava na maior parte do tempo dos seus dias. O espelho de manchas castanho dourado que tinha à sua frente mostrava-lhe traços desequilibrados. Se se visse de fora, será que se apaixonaria por ela? Lembrou-se da sua avó, do que lhe dizia vezes sem conta. Da avó que tinha dificuldade em dizer a idade, por achar que o número não lhe pertencia. Dulce nunca teve problemas com a sua imagem. Sempre actuou como se fosse dotada de uma beleza mediana ou acima da média, caso se comparasse com quem costuma ver no metro à hora de ponta. Aos olhos dos outros, a forma como a fitavam, confirmavam-no. Achava ela. Lá em casa, a perspicácia, a reacção rápida, energia, e boa disposição bastavam. A vitalidade e o humor é que interessavam. No dia em que se observou de outra maneira, cresceu.

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