quarta-feira, 9 de junho de 2010

Cartas com números

"Hoje em dia, abre-se a caixa do correio e só se encontram contas para pagar. Cartas de amor, as ridículas, as especiais que nos faziam subir às nuvens em três segundos, são raras. Pode-se usar a net, é certo, mas não é a mesma coisa. Para uns, pode haver aqui uma evolução. Afinal, no mesmo instante sei que a outra pessoa está a ler o que eu escrevi. A tensão em tempo real, bem explorada, tem um potencial gigantesco", dizia a Ana. "Já me passei com o Zé assim", reagiu prontamente a Dulce. "Ninguém quer saber da tua vida íntima", atirou Maria. Bem dispostas, continuaram a conversa no andar de cima do Bica-me. "Haverá ainda muito por fazer neste domínio. Afinal, ali damos sinal de que estamos vivos para alguém. Os que seleccionam criteriosamente os amigos no facebook ou no gtalk conseguem ter ali uma vida social dupla, ou fortalecer a real, fraquinha que anda pela falta de tempo", prosseguiu a Ana. O mote da conversa tinha sido dado pela Laura. Laura tinha recebido uma carta manuscrita do seu ex-namorado Luís. "Foi uma pena que viesse tarde", começou por contar ela. "Estava a gostar de estar com ele, mas ele ainda não se tinha libertado da ex-namorada e trocou o meu nome pelo dela três vezes". Depois, contou ainda, por azar, a ex-namorada tinha o nome da sua chefe. "Havia muito eco"

1 comentário:

M. disse...

E o eco, como todos sabemos, pode ser mortal :) Pontos para a menina que falou na tensão em tempo real... existe... mas o potencial pode ser demasiado... e, voilà, mortal :)
Continuo a gostar muito das suas histórias... a menina tem o dom da concisão, concisão... with a twist... ou vários twists.... como um bom conto deve ter. Hemingway, se aqui der um saltinho, ficará orgulhoso! :)